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Circuito Museográfico

Torá

Torá (do hebraico תּוֹרָה, significando instrução, apontamento) é o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh (também chamados de Hamishá Humshêi Torá, חמשה חומשי תורה - as cinco partes da Torá) e que constituem o texto central do judaísmo. Contém os relatos sobre a criação do mundo, da origem da humanidade, do pacto da Divindade com Abraão e seus filhos, e a libertação dos filhos de Israel do Egito e sua peregrinação de quarenta anos até a terra prometida. Inclui também os mandamentos e instruções que segundo o judaísmo tradicional, foram dadas a Moisés para que a entregasse e ensinasse ao povo de Israel.

Chamada também de Lei de Moisés (Torát Moshé, תּוֹרַת־מֹשֶׁה), por vezes o termo "Torá" é usado dentro do judaísmo rabínico para designar todo o conjunto da tradição judaica, incluindo a Torá escrita, a Torá oral (ver Talmud) e os ensinamentos rabínicos. (in: Portal Judaísmo)

A Judiaria de Castelo Branco

A separação étnico-espacial de cristãos e judeus na zona intramuralhas da Vila de Castelo Branco

Da fundação de Castelo Branco, em 1214, por Pedro Alvito, até ao édito de Elvas, em 1361, que obrigou a que os judeus, mouros e cristãos em Portugal passassem a viver em bairros diferenciados, os membros destas etnias podiam morar nas mesmas ruas. Refira-se que sob o domínio árabe, antes da fundação do Reino de Portugal, mouros, cristãos, e judeus eram obrigados a viver em bairros separados.

Do édito de Elvas (1361), de D. Pedro I, até ao édito de D. Manuel I (1496), judeus e cristãos passaram a viver em zonas e bairros separados. Os cristãos ocupavam a zona a sul da rua Nova, onde as ruas têm nomes toponímicos muito ligados a atividades agrícolas; os judeus, incluindo a rua Nova como judiaria, distribuíam as suas atividades para norte, pelas ruas dos mesteres. Existem indícios de uma provável segunda judiaria, não concomitante com a da rua Nova, na zona a norte da rua dos Peleteiros, com incidência na rua D´Ega.

Da descoberta, em 2015, pelo investigador Jorge Martins, da judiaria e sinagoga na rua Nova decorre que esta terá sido demarcada possivelmente desde o édito de Elvas de 1361, do Rei D. Pedro I, que obrigava à separatividade dos bairros judeus e novos cristãos. Quanto à Comuna Judaica, é muito provável que já estivesse organizada e em funcionamento desde data anterior ao próprio édito, na primeira metade do séc. XIV.

Com o édito de D. Manuel I, judeus (agora cristãos-novos) e cristãos-velhos voltaram a coabitar as mesmas ruas, tal como havia sucedido até 1361. Verificou-se, contudo, a tendência de os judeus se associarem e morarem em conjuntos em banda de casas ligadas interiormente entre si, nos diferentes arruamentos.

OS MAIS ANTIGOS NOMES DE JUDEUS QUE SE CONHECEM EM CASTELO BRANCO

1369 - Abraão Amado.

1381 - Abraão de Malina e Azequirim

RENDEIROS JUDEUS DOS DIREITOS REAIS NA VILA DE CASTELO BRANCO

De D. Fernando I a D. João II, Manuel da Silva Castelo Branco inventariou um conjunto significativo de documentos abaixo discriminados, alusivos à designação dos rendeiros judeus dos direitos reais na vila de Castelo Branco, tal como dos nomes a quem eram feitas as doações das rendas. Afonso de Paiva, o famoso judeu percursor dos caminhos para oriente a mando de D. João II, teve, à semelhança de seu pai, o papel nesta vila ligado à recolha dos impostos.

A 15.12.1381, el-rei D. Fernando I concede por carta “o arrendamento das sisas gerais da vila e seu termo a um judeu chamado Azequirim, ali morador e que as arrematara por mais cem libras, em cada ano, que o seu antecessor Abraão Amado”.

(1384-IX-11) – D. João, Mestre de Avis, pela “carta dada em Alenquer, faz doação a Lopo Vasques de Castelo Branco, Comendador de S. Vicente da Beira, das rendas e direitos dos judeus de Castelo Branco”.

(1385-IV-16) – “Após as Cortes de Coimbra, que o aclamam rei de Portugal, apressa-se D. João I a confirmar estas doações. A Lopo Vasques de Castelo Branco confirma a doação das rendas dos judeus de Castelo Branco, por carta dada em Coimbra, a 16-4-1385”.

(1393-I-14) – “Ulteriormente, talvez por morte do beneficiado, faz idêntica mercê a Martim Vasques Vilela, alcaide do Castelo de Óbidos, por carta dada em Lisboa, a 14-1-1393”.

 “No reinado seguinte, D. Duarte proíbe os infantes, arcebispos, bispos, abades e fidalgos de terem os judeus por vedores, mordomos, contadores e escrivães, funções em que havia ensejo de, por muitas formas, oprimirem ou vexarem os cristãos. Este rei dá carta de mercê dos direitos do serviço real dos judeus de Castelo Branco a Álvaro Pais Çapata, depois confirmada por D. Afonso V. No entanto, apesar das restrições impostas, a influência dos judeus aumenta”.

(1464-VI-8) – D. Afonso V “fizera a doação dos direitos da judiaria albicastrense a D. Martinho, Conde de Atouguia, por carta de Elvas, a 8-VI-1464”.

(1491-XII-14) – “É dado em Lisboa um instrumento de aforamento a Mosse Molfo e a Mazalto, sua mulher, judeus moradores em Castelo Branco, de umas casas que el-rei possuía na Judiaria da vila, confinando de uma parte com Mosse Çoleima – o moço e, de outra, com Salamam Puica e com quintais da freira, mediante o pagamento de 2 reais de prata em cada ano e a obrigação de procederem à reparação das ditas casas”.

O rei D. João II tinha de rendimento dois reais de prata anuais das casas de que era proprietário na judiaria de Castelo Branco.

A JUDIARIA TORNA-SE PEQUENA À ÉPOCA DE D. AFONSO V

1473 -X-10 - O Rei D. Afonso V responde favoravelmente em carta, dada em Lisboa, ao pedido dos judeus de Castelo Branco para alargamento da judiaria.

No século XV, em documentos encontrados por Manuel da Silva Castelo Branco, a rua Nova ou não vem associada direta ou indiretamente à judiaria, ou esta parece incompatível com o funcionamento comprovado nesta mesma rua da Casa do Concelho. Caso só tenha existido uma rua Nova, o que alguns investigadores aceitam e outros não, deduz-se que a judiaria possa ter sido transferida, em finais do séc. XIV, desta rua para outro local, tendo existido provavelmente duas judiarias diferenciadas no tempo e no espaço, uma comprovada e a outra indiciada. No séc. XV, sabe-se que terá sido elevada a pressão demográfica no espaço da judiaria.

RUA NOVA E RUA D´EGA: UMA OU DUAS JUDIARIAS EM CASTELO BRANCO?

Castelo Branco teve uma judiaria com sinagoga na rua Nova, confirmada pelas descobertas do investigador Jorge Martins, nos processos de inquisição de 1583 relativos a Brites Mendes, Branca Braceiros e Grácia Guterres. Esta judiaria poderá ter tido uma possível expansão na travessa do mesmo nome. O provável portado da sinagoga, com sulco para suporte de Mezuzah, pode ser visto, ainda que deslocado do sítio original, na parede do edifício do Museu Cargaleiro, no gaveto com a travessa da rua Nova.

Coloca-se, porém, a hipótese de outra judiaria, na zona a norte da rua dos Peleteiros, com incidência especial na rua D´Ega e restante espaço até ao limite norte da muralha.

As duas judiarias, uma comprovada e a outra colocada como possível, não terão sido simultâneas.

JUDIARIA E COMUNA JUDAICA: O QUE SÃO?

Judiaria é o bairro enquanto espaço físico demarcado e habitado por judeus;

Comuna Judaica constitui a instituição jurídico–administrativa, cultural e religiosa comunitária, com os seus dirigentes, formada por um mínimo de dez judeus. Sabe-se que a comuna de Castelo Branco aglutinou não só a judiaria desta vila, como a de S. Vicente da Beira e, provavelmente, de outras localidades como Sarzedas.

INDÍCIOS QUE PERSISTEM NO MAPA DE 1762 QUANTO À PROVÁVEL SEGUNDA JUDIARIA

Junto à Porta da Vila de Castelo Branco, a ligação da rua D´Ega com a rua dos Ferreiros está tapada com um pequeno troço de muralha, o que pressupõe a existência de controle no começo da rua D´Ega. Esta rua, com 247 m de extensão, tem um declive acentuadíssimo até à rua do Arressário; tal controle à entrada, só se afigura explicável do ponto de vista urbanístico caso se tratasse de uma judiaria.

Este pormenor do mapa de 1762, com uma zona vazia de casario, em nada contradiz o documento de 1480, encontrado na Torre do Tombo por Manuel da Silva Castelo Branco, relativo à permuta de umas casas na rua dos Peleteiros com traseiras para a judiaria. Tratar-se-ia, no séc. XV, de um 2.º bairro judeu, na zona norte da vila, não concomitante com a judiaria da rua Nova?

AS ORIGENS DA CHAMADA CASA DE JUDEU

Sobre as origens da tipologia dominante da casa de judeu na Beira Interior de Portugal (séc. XVI)

Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, considerado um dos pioneiros a nível mundial das teses patrimonialistas, inventariou no séc. XIX, em Cluny (França), uma tipologia de casa de comerciante, do séc. XII (período gótico), que considerou rara e que corresponde à tipologia de casa datável em Portugal predominantemente do séc. XVI, localizada sobretudo nas regiões da Beira Interior e de Trás-os-Montes, fronteira com Espanha, sendo curiosamente reconhecida pela tradição nestas regiões como Casa de Judeu.

Na cidade de Castelo Branco, a tipologia atual (2 e 3 pisos) abrange quase 100% das casas do inventário realizado pelo Gabinete da Zona Histórica, sobretudo casas datáveis do séc. XVI, algumas de início apenas com um piso, as quais não podem deixar de ser associadas dominantemente á vinda e fixação de judeus expulsos de Espanha, provocando um aumento de cerca de 60% na sua população. Estas casas estão frequentemente ligadas entre si no plano horizontal pelo seu interior, criando verdadeiros labirintos que permitiam a fuga à inquisição e a prática do culto judaico em segredo. Para além da escadaria entre pisos, como garantia de fuga, estas casas dispunham, por vezes, também de um alçapão dissimulado no pavimento, para ligação vertical entre pisos.

Comparação entre a casa do séc. XII, inventariada no séc. XIX, em Cluny, por Viollet-le-Duc, e uma casa do séc. XVI na zona histórica de Castelo Branco, cuja tipologia é comum a grande parte das chamadas casas de judeu da Beira Interior.

A massificação deste tipo de casa nesta região só é explicável pela fixação dos judeus refugiados de Espanha em 1492, expulsos pelos Reis Católicos.

CARACTERÍSTICAS FORMAIS DA ARQUITETURA QUINHENTISTA

  1. Desalinhamento de vãos;
  2. Antissimetrias;
  3. Tratamento individualizado das molduras dos vãos;
  4. Portados e janelas biselados;
  5. Planta irregular com tendência forte para a recusa de ângulos retos;
  6. Ligação interior entre as casas;
  7. Implantação orgânica;
  8. Elementos decorativos nos lintéis;
  9. Janelas de gaveto dando a perceção de irregularidade no espaço interior do compartimento;
  10. Formas de composição aditiva, geradoras da transformação contínua da arquitetura.

A Menorah (candelabro de sete braços), na ombreira lateral direita do n.º 10 da Rua D´Ega - indica provavelmente uma judiaria.

São raras as Menorahs que não se encontram danificadas. No presente caso, são visíveis as tentativas de descaracterização numa segunda fase para cruciforme. Aos traços iniciais da Menorah (símbolo genuinamente judaico) sobrepuseram-se, por imposição posterior, traços horizontais, sinais de cruzes, transformando o conjunto num símbolo criptojudaico. Consideram alguns investigadores ser esta sinalética, no n.º 10 da rua D´Ega, uma das provas de uma possível segunda judiaria em Castelo Branco, já que na sua origem, sem os traços horizontais, ela deveria situar-se obrigatoriamente no espaço de um bairro judaico, pelo édito de 1361, do Rei D. Pedro I. Consideram outros que esta sinalética é, desde a sua origem, uma marca religiosa criptojudaica da qual já não é possível inferir com segurança localizar-se em bairro judaico, pois estes já teriam sido extintos pelo édito de 1496, do Rei D. Manuel I.

CRUCIFORMES: OS SAMBENITOS DAS CASAS

Os cruciformes, em substituição forçada do sulco da Mezuzah, são, segundo a tradição, a sinalética indicativa de que ali existiu uma casa de judeu converso. Logo, segundo Emílio Fonseca Moretón, o cruciforme na ombreira da porta funcionava como uma espécie de sambenito da casa e de toda a família que nela habitava.

SULCO DA MEZUZAH PROVA MATERIAL DA JUDIARIA DA RUA NOVA

Aspetos do sulco para colocação da Mezuzah, localizada na ombreira da provável porta da Sinagoga da rua Nova, descontextualizada face ao local de origem, hoje no gaveto esquerdo, do lado de quem sobe, da rua Nova com a travessa do mesmo nome, em Castelo Branco. Pelo édito de 1361, esta marca religiosa só poderia existir na judiaria.

Objetos e rituais

De forma a familiarizar o visitante com a Cultura Judaica, a Casa da Memória da Presença Judaica tem um conjunto de objetos em exposição associados ao Ciclo Vital, às Festividades Judaicas e aos seus Rituais.

Corredor da Inquisição

Nos processos da Inquisição, em Portugal, os investigadores registam terem existido dois tipos de tortura, os tratos de Polé e do Potro, ao que outros acrescentam conforme as imagens, a existência de quatro graus de tortura. Tal ocorria num espaço chamado de Casa dos Tormentos, uma casamata ou espaço subterrâneo para que não se ouvissem os gritos dos torturados pela inquisição, escura, iluminada apenas para que os padecentes vissem os instrumentos de tortura, e o inquisidor pudesse redigir a confissão.

Foram 21 os cristãos-novos albicastrenses, acusados de judaísmo, vítimas mortais da Inquisição: 2 queimados vivos em auto-de-fé, 9 garrotados primeiro e queimados depois, 3 falecidos nos cárceres e posteriormente queimados seus ossos juntamente com sua estátua, 4 falecidos nos cárceres e 1 falecido em Castelo Branco. Além destes, mais 2 foram queimados em estátua por terem escapado à Inquisição. Só no auto-de-fé realizado em Lisboa em 2 de setembro de 1629 foram condenados 42 cristãos-novos albicastrenses, quatro dos quais executados na fogueira.

Vítimas da inquisição em castelo branco (memorial)

Figuras Ilustres

“… para tratar os doentes jamais curei de saber se eram hebreus, cristãos ou sequazes da lei maometana” – Juramento Médico de Amato Lusitano -  Salónica, no ano do Mundo 5.319 (1559 da nossa Era)

''Oh ingrata mãe pátria que nem meus ossos mortos aceitarás receber'' – Amato, V Centúria, Cura 100

No período quinhentista, Amato Lusitano, amante do conhecimento, da razão, da experiência e da moral hebraica, muito contribuiu para o avanço da medicina no ocidente, estabelecendo pontes entre as autoridades antigas, Galeno, Avicena e a tradição escolástica por um lado, e a «nuova scienza» do mundo moderno, com métodos de investigação que hoje não podem deixar de ser considerados científicos.

1511 - Provável data do nascimento de Amato Lusitano (João Rodrigues de Castelo Branco), judeu nascido na então vila de Castelo Branco, cujos pais foram forçados a batizá-lo de cristão-novo, na Igreja de St.ª Maria do Castelo.

1525 - Parte para Salamanca (Espanha) para aí realizar os estudos preparatórios seguidos dos universitários.

1532 - Conclui o bacharelato em medicina e regressa a Portugal.

1533-35 - Depois de breve passagem por Castelo Branco, viajou por outras terras lusas quer em pesquisa de plantas quer estudando casos e tratando doentes, vindo a fixar-se em Lisboa onde se sabe ter exercido clínica.

1535/36 - Anunciada para breve a inquisição, João Rodrigues de Castelo Branco parte para Antuérpia, na Flandres (Bélgica), onde se junta à comunidade judaica portuguesa aí residente.

1536 - Estabelecimento da inquisição em Portugal, Bula de 23 de maio do Papa Paulo III.
Amato, em Antuérpia, ainda com o nome de João Rodrigues de Castelo Branco,  publica o seu primeiro livro ''index dioscoridis'', tradução feita por ele directamente do grego para o latim. Alguns anos mais tarde publica as Enarrationes (1553).

1541-1547 - Parte para Ferrara (Itália), a convite do Duque de Este, para assumir a cadeira de medicina na universidade daquela cidade italiana, lugar que preencheu até 1547. Amato, em Ferrara, teve grande relacionamento com Brasavola e Canano, dois famosos clínicos italianos e certamente com Dona Gracia Mendes Nasci que então aqui vivia, banqueira, financiadora de obras de caridade, de mecenato artístico e de uma casa editorial dirigida por dois judeus portugueses responsáveis pela publicação em 1 de março de 1553 da Bíblia de Ferrara, impressa em língua espanhola na sua 1.ª versão. Da mesma tipografia saiu em setembro de 1553, da autoria do judeu português Samuel Usque e editada pelo seu irmão Abraão Usque, um dos proprietários da tipografia, a obra prima em português Consolação as Tribulações de Israel.
Em Ferrara, Amato fez uma grande descoberta no sistema circulatório. Mostrou com o apoio do anatomista João Batista Canano, que a veia sem par tem certos ostíolos ou opérculos, que se abrem para haurir o sangue e depois se fecham de modo que não permitem mais enviar para trás o sangue recebido.

1547 – Em maio deste ano devido ao ambiente de perseguição aos judeus que começou a fazer-se sentir em Ferrara, Amato muda-se para Âncona onde viveu oito anos. Nesta cidade viviam mais de 3.000 judeus portugueses e havia uma sinagoga de rito sefardita de tradição lusa.

1547 - Em Âncona Amato Lusitano cura Jocoba del Monte, irmã do Papa Júlio III. Trata também o irmão José Amato de dores e vermihão dos olhos e o sobrinho Brandão.

1549 - A 1 de dezembro, em Âncona, finaliza a sua 1.ª Centúria Médica dedicada a Cosme de Médicis, que veio a publicar em finais de 1551 em Florença.

1550 - A 7 de fevereiro Júlio III foi eleito Papa e em Maio, Amato Lusitano é chamado a Roma para o tratar, o que ocorreu com sucesso. A sua estadia em Roma coincidiu com a do seu amigo e Doutor André Laguna.

1551 - A 1 de abril em Roma, Amato finaliza a 2ª Centúria, que dedicou ao Cardeal d’Este, irmão de Hércules de Ferrara, sendo a sua primeira edição publicada em Paris em 1554.

1552 - A 2 de julho, regressa a Âncona e termina a 3ª Centúria.

1553 - Em Âncona, a 17 de setembro termina a sua 4ª Centúria.

1553 - É publicado em Veneza o seu ''in dioscórides anarzabei de médica matéria […] enarrationes” onde Amato expressa todo o conhecimento por si acumulado.

1555 - A 23 de março de 1555, morre em Roma o papa júlio III. Sucedeu-lhe o papa Paulo IV, cardeal Carrafa, terrível inquisidor. Vinte e cinco Judeus foram condenados e queimados pouco depois na Praça Pública de Ancona. Grácia Nasci, Banqueira Portuguesa Judia, em sinal de revolta, lança um bloqueio económico ao Porto desta cidade.

1555/56 - Amato ainda conseguiu fugir em finais de 1555 para Pesaro onde residiu por pouco tempo. Os seus bens em Ancona foram-lhe confiscados, entre os quais os manuscritos da sua 5ª Centúria que conseguiu reaver posteriormente graças à ajuda de vários amigos, que completou nesta cidade, tendo-lhe contudo ficado retidos os Comentários sobre Avicena. Dedicou esta 5.ª Centúria ao sobrinho de Dona Gracia Nasci, D. Joseph Nassin.

1556 – É publicada em Veneza a primeira edição da Quinta e Sexta Centúria. Esta última é dedicada a José Nasci, genro e sobrinho de Gracia Mendes Nasci.

1556 - Vive em Ragusa, hoje Dubrovnik, onde foi recebido pelo seu familiar Diogo Pires de Évora – o Pirro Lusitano. Aí coligiu o material que irá constituir a sua 6.ª Centúria de curas medicinais (curas ragusinas), que terminou em 1558, ainda que muitos comentários a esta tenham sido escritos em 1559 em Salónica.
Quando vivia em Ragusa são publicadas em Veneza as Centúrias Terceira e Quarta. Nesta última, como prefácio, Ambrósio Nicandro de Toledo escreve uma carta laudatória de Amato, para António Berberini.

1558: O famoso médico italiano Pedro Mattiolo, insulta e persegue Amato. Movido pela vingança das críticas que o médico português tinha formulado aos seus escritos, Mattiolo escreveu em 1558 o livro “Apologia Adversus Amathum cum censura in ejusdem ennarrationes”. Este clima poderá ter estado na origem da partida de Amato de Ragusa.

1558/1568: Vive em Tessalónica, hoje Salónica, então cidade do Império Otomano, onde terminou a 6.ª Centúria e escreveu a sétima que deu ao prelo em 1561, esta dedicada a D. Guedelha Yahia, em casa de quem foi acolhido. Amato escreveu   também em Salónica, no ano do Mundo 5.319 (1559 da nossa Era) o seu famoso Juramento Médico, ainda hoje reconhecido e praticado pelo seu alto valor moral e ético, o qual veio a ser censurado 400 anos depois em Portugal, durante o governo de Salazar.

1568: Amato lusitano morre em Tessalónica de peste, segundo Barbosa Machado em 21 de Janeiro de 1568. Diogo Pires dedica-lhe um epitáfio em verso latino. Foi sepultado no cemitério judaico de Salónica, destruído pelos alemães em conivência com as autoridades gregas.

Texto: José da Conceição Afonso

Maria Gomes, cristã-nova, natural e moradora em Castelo Branco, filha de Alonso Gomes e de Helena Fernandes, que também aqui foram moradores, viúva de António Rodrigues, presa em Castelo Branco em 31 de julho de 1636 e queimada em auto-de-fé em Lisboa a 5 de setembro de 1638, por práticas judaicas, com 117 anos de idade.

1521  - Ano aproximado do nascimento de Maria Gomes em Castelo Branco.

1568  - A mãe de Maria Gomes ensinou-lhe a amortalhar os mortos com mortalha crua, como faziam os seus antepassados que criam na Lei de Moisés.

1618  - Iniciada na crença na Lei de Moisés pelas cristãs-novas Isabel de Lucena e Maria de Lucena, que lhe disseram, no caminho de São Gens, no quintal de sua casa, que ela era a mestra de todas as que creem na Lei de Moisés.

Seu marido faleceu e Maria Gomes mortalhou-o ao modo judaico, como sua mãe lhe ensinara.

Foi pedir esmola a casa do cristão-novo Marcos Loureiro, morador no Beco do Relógio, e este lhe disse que cresse na Lei de Moisés para não precisar de pedir pelas portas e ela respondeu que cria mas que precisava de pedir.

1624  - Esteve com dez pessoas na Nossa Senhora de Mércoles, junto a um carvalho, numa festa de cristãos-novos, onde o padre Pascoal Jordão disse que não comia lebre nem carne de porco por viver na Lei de Moisés.

Declarou-se crente na Lei de Moisés com duas cristãs-novas no caminho de São Gens.

1633  - Judaizou no quintal de sua casa com Brites Fernandes e uma irmã desta. Declarou-se crente na Lei de Moisés em sua casa com Manuel Loureiro.

21 de abril   - Maria Rodrigues denunciou Maria Gomes por ter participado na festa cristã-nova de Nossa Senhora de Mércoles.

1635/1636  - Foi a casa de um médico cristão-novo chamado Pedro Lopes e a filha deste, Perpétua Lopes, criticou-a por ter procurado seu pai, tendo Maria Gomes casado um cristão-velho.

1636

31 de julho  - Maria Gomes vivia em São Gens quando foi presa em Castelo Branco.

5 de agosto  - Foi entregue nos cárceres do Palácio dos Estaus, sede da Inquisição de Lisboa.

1638

9 de julho - Foi torturada na polé com um “trato corrido” e confessou que praticava o judaísmo desde 1618.

6 de agosto  - Revogou a confissão que fizera sob tortura, invocando que só confessara por medo de voltar a ser torturada.

20 de agosto - Foi sentenciada à morte na fogueira por não confessar tudo o que as suas denunciantes haviam declarado e por ter revogado o que confessara sob tortura.

25 de agosto - Maria Gomes pediu audiência para confessar e confirmou ter estado na festa cristã-nova de Nossa Senhora de Mércoles.

3 de setembro - Na antevéspera do auto-de-fé, estando Maria Gomes de mãos atadas, pediu audiência e confessou que lhe tinham ensinado que, em observância da Lei de Moisés, não comesse toucinho nem peixe sem escama, que limpasse as candeias à sexta-feira, vestisse camisa lavada e se enfeitasse e que se declarara crente na Lei de Moisés com duas cristãs-novas de apelido Lucena, que tinham vindo presas com ela.

4 de setembro - Na véspera do auto-de-fé confessou que, havia três ou quatro meses, se declarara crente na lei de Moisés com uma cristã-nova chamada Maria da Gama quando estavam ambas na prisão.

Por quatro votos contra dois, os inquisidores mantiveram a sentença de execução na fogueira, apesar das suas últimas confissões.

5 de setembro - Maria Gomes foi queimada no auto-de-fé que se realizou na Ribeira Velha, em Lisboa, com 117 anos de idade.

Texto: José da Conceição Afonso

1443 - Afonso de Paiva nasceu em Castelo Branco. Filho de Pedro Vaz escrivão Del-Rei D.João II dos direitos reais dos Judeus desta então Vila.

Afonso de Paiva, Judeu, sucede a seu Pai no dito ofício, que exerce cumulativamente com o de escrivão das sisas.

1490 - D. João II preparou dois homens da sua confiança, Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã, para a nobre tarefa de prospetores em terras do oriente de informações sobre rotas comerciais e o caminho marítimo para a índia.

Partindo de Portugal passaram por Barcelona, Nápoles, Rodes, Alexandria, Cairo e Adem. Nesta última separaram-se, tendo Afonso de Paiva seguido para a Etiópia e Pêro da Covilhã para a índia. Os dois combinaram reencontrar-se em Adem; entretanto Afonso de Paiva morreu de peste (1490) durante o seu trajeto o que levou Pêro da Covilhã a ter de completá-lo.

Nenhum dos dois prospetores voltou, mas as informações que El-Rei D. João II necessitava chegaram ao reino, servindo de base de sustentação da epopeia que se avizinhava da descoberta do caminho marítimo para a índia.

Texto: José da Conceição Afonso

1567 - Filipe Rodrigues Elias Luna de Montalto (sobrinho-neto de amato lusitano) nasceu na então vila de Castelo Branco numa família de Criptojudeus forçados ao cristianismo. Nesse mesmo ano foi batizado na igreja de Stª Maria do Castelo

Elias de Montalto formou-se em filosofia e medicina na faculdade de Salamanca. Casou em Castelo Branco com a cristã-nova Jerónima da Fonseca, que mais tarde, no exílio, fugidos em 1602 à inquisição, passou a chamar-se Raquel da Fonseca. O casal teve cinco filhos entre eles Moisés que veio a ser um médico conceituado na Polónia.

No exílio, Elias de Montalto, tal como toda a sua família, recusaram o nome de cristãos-novos e assumiram a prática do judaísmo

Provavelmente vindo da Flandres, foi chamado a Paris para curar a italiana Leonora Galigai, aia e irmã de leite de Maria Médicis, Rainha de França. Seguiu depois para Itália onde foi protegido pelo tio da Rainha de França, o Grão Duque Fernando I, de Florença.

1606 - Publicou em Veneza, a sua obra principal, ''optica intra philosophiæ & medicinæ aream, de visu, de visus organo [et] obiecto theoriam accurate complectens ''.

1610 - A 14 de maio é convidado, depois da morte do Rei de França Henrique IV, para médico pessoal da rainha regente.

1612 - Elias de Montalto aceita o lugar, depois de autorizado e na condição de poder praticar livremente a sua religião, pedido feito pela própria rainha ao papa. Fixa-se em Paris com a sua mulher Raquel da Fonseca, dois filhos Moisés e Isaac, e o discípulo Saúl Levi Mortera.

Tornou-se um dos médicos mais famosos da europa, quer pelo papel percursor no estudo das doenças nervosas, quer por ser médico pessoal de Maria Médicis, Rainha de França, tal como do Príncipe o futuro Rei de França Luís XIII.

1614 – Publica «archipathologia» e «Lettre d'Espagne Presentee a la Royne Regente».

1616 - Acompanhando a rainha na preparação do casamento do seu filho, veio a falecer na cidade de Tours a 19 de fevereiro. O corpo de Elias Luna de Montalto foi embalsamado às ordens da Rainha Maria Médicis, levado para Amesterdão pelo familiar José de Luna e sepultado no cemitério judaico-português de Ouderkerk.

CRONOLOGIA DE MOISÉS MONTALTO

Moisés de Montalto, filho de pais Cripto-Judeus, Elias Montalto e Raquel da Fonseca, nasceu em data desconhecida em Castelo Branco.

Termina os estudos em medicina em Pádua, Itália.

Fixou-se depois em Lublin, na Polónia, onde viveu como médico muito conceituado de Stanislas Koniecpoli membro da nobreza polaca, e simultaneamente com grande atividade no seio da vida judaica polaca.

Stanislas Koniecpoli - Autor Anónimo do Séc. XVII (Gravura).

1637 - Moisés Montalto morreu em Lublin. Sua esposa Isabel (aliás Esther) da Fonseca Ruão morreu em Amsterdão em 1692, tendo sido sepultada no cemitério judaico em Ouderkerk.

Texto: José da Conceição Afonso

1752 - Manoel Henriques de Paiva nasceu em Castelo Branco a 23 de dezembro, na rua do relógio nº15 e 17 filho mais novo de António Ribeiro de Paiva, boticário, natural de S. Vicente da Beira, e de Isabel Aires Henriques.

1769 - Com 17 anos de idade embarcou com o pai e restante família primeiro para S. Salvador da Baía seguindo mais tarde para o Rio de Janeiro.

No Brasil Manoel J. Henriques de Paiva iniciou-se junto do pai, no estudo da história natural, química e farmácia

O Pai tornou-se o boticário do Vice-Rei, o 2.º Marquês do Lavradio, Luís de Almeida Portugal Soares de Mascarenhas.

1770 - A 16 de junho no Brasil, aos 17 anos e 6 meses de idade, obteve a carta de boticário, o equivalente na época ao diploma de farmacêutico atual.

1772 - A 18 de fevereiro foi um dos fundadores da Academia de Ciências do Rio de Janeiro.

“Organizou juntamente com seu irmão José Henriques Ferreira, um "horto brasileiro", que foi enviado pela academia científica à Real Academia Sueca.”

Foi membro da Academia das Ciências de Estocolmo, da Academia de Medicina de Madrid, da Sociedade Económica de Harlem, e da Academie de Sciences de Upsala (Suécia). Participou também da Academia Real das Ciências, de Lisboa, da qual se retirou em 1787.

1772 - Regressa a Portugal para completar os seus estudos. Escolheu a universidade de Coimbra, vindo a obter aí os graus de bacharel em filosofia a 19.6.1775, bacharel em medicina a 23.1.1781; e formatura em medicina a 14.7.1781. Diplomado por esta universidade viria a ser um dos grandes médicos do seu tempo.

1774 - A 1 de fevereiro, pelas suas capacidades, ainda quando aluno do segundo ano, foi nomeado “demonstrador do laboratório de química”, pelo lente, professor Domingos Vandeli.

1775/1783 - Na universidade de Coimbra exerceu com algumas interrupções o cargo de mestre de oficina do laboratório químico.

1777-1778 - Vive em lisboa (Caparica/Almada), onde terá exercido clínica.

1779 - No período em que estudava em Coimbra, promoveu em sua casa reuniões de académicos com o objetivo de divulgar a ciência e os métodos científicos. Esta iniciativa ficou conhecida como Sociedade de Celas, ou Sociedade dos Mancebos Patriotas, e foi considerada pelo promotor da inquisição, um dos motivos para processo inquisitorial.

1781 - Diplomou-se em Medicina na Universidade de Coimbra.

1782-1783 - Regressa a Coimbra, cidade onde vivera cerca de onze anos, com algumas interrupções, agora porém por pouco tempo e para não mais lá voltar.

1793 - Ascendeu a médico da Câmara do Príncipe Regente. Tendo sido nomeado Censor Régio e Deputado da Junta do Protomedicato.

1803 - Foi Fidalgo da Casa Real e agraciado com a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo.

1808 - Após as invasões francesas de Junot, foi acusado de ideias jacobinas e iluministas e de ter simpatias pela revolução francesa. Encarcerado em 13 de dezembro de 1808 pela Junta da Inconfidência, destituído por juízo nesta data de todos os cargos e honras em 24 de março de 1809 e condenado ao exílio para a cidade de S. Salvador da Baía (Brasil)

1818 - Decorridos cerca de dez anos foi reintegrado nas suas prerrogativas e honras, pelo rei D. João v, por decreto de (06.02.1818) e aviso régio de (14.11.1818).

1819 - Foi igualmente reintegrado no lugar de 6.º lente na cadeira de farmácia, podendo admitir alunos do curso médico-cirúrgico (carta régia de 29.11.1819).

1822 - Quando da proclamação de independência do Brasil naturalizou-se cidadão daquele novo país.

1824 - D. Pedro I nomeou-o catedrático para reger as cadeiras de farmácia, matéria médica e terapêutica no colégio médico-cirúrgico da Baía, onde já lecionava desde 1820, utilizando a botica do convento de Santa Tereza.

1829 - A 10 de março Manoel Joaquim Henriques de Paiva, faleceu em S. Salvador da Baía, no Brasil.

Contam-se cerca de setenta e cinco trabalhos publicados de carácter científico, originais, em colaboração ou traduzidos dos quais se destacam os Elementos de Química e Farmácia e a sua direção no Jornal Enciclopédico.

Texto: José da Conceição Afonso

OS JUDEUS EM PORTUGAL

1. SÉCULO II-XII: ANTES DE PORTUGAL
Já viviam judeus no nosso território antes do nascimento do reino de Portugal.

2. SÉCULOS XII-XV: CONVÍVIO E TOLERÂNCIA
Os nossos primeiros reis protegeram os judeus, que estavam autorizados a viver entre os cristãos.

3. SÉCULOS XV-XVIII: INTOLERÂNCIA E DIÁSPORA
A expulsão dos judeus e a introdução da Inquisição proibiram o judaísmo e extinguiram as judiarias.

4. SÉCULOS XVIII-XX: ABERTURA E RESSURGIMENTO
A legislação pombalina e a extinção da Inquisição possibilitaram o ressurgimento das comunidades judaicas.

5. SÉCULO XX: REPÚBLICA E RECONCILIAÇÃO
A República favoreceu a legalização das comunidades judaicas e a emergência das comunidades criptojudaicas.

6. SÉCULOS XX/XXI: LIBERDADE E IDENTIDADE
A plena liberdade religiosa após o 25 de Abril de 1974 e a assunção do judaísmo como parte integrante da nossa identidade coletiva.